sexta-feira, 29 de julho de 2011

Manifesto


No dia 12 de Março de 2011 realizou-se, em várias cidades do país e do estrangeiro, um conjunto de manifestações sob o lema «Geração à Rasca». O manifesto então elaborado para as convocar, destinado explicitamente para os jovens com elevadas qualificações em situação de precariedade laboral (vejam-se frases como «as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança», «somos a geração com o maior nível de formação na história do país», «Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam.», etc.), desbloqueou uma latência profunda dos cidadãos descontentes com o rumo político do seu país, e veio a ser largamente ultrapassado no dia das manifestações - as acções de luta de 12 de Março trouxeram à rua muito mais do que a geração dos «desempregados, "quinhentoseuristas" e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes» - deu voz, pelo seu carácter apartidário, laico e não-violento, aos idosos com pensões de miséria, aos trabalhadores sem termo com salários indignos, aos pais em luta contra uma injustiça social que lhes vitima os filhos e a todos aqueles que a exploração, a corrupção e a incompetência do Estado português perante os grandes poderes internacionais têm posto numa situação de desespero e de revolta. Como foi público, no dia 12 de Março realizou-se uma das maiores manifestações populares desde o 25 de Abril, nesta estiveram centenas de milhar na rua, demonstrando que a força está com quem quer ter um futuro condigno com direitos sociais na área da educação, formação, emprego e justiça social.

Nós, que tomámos parte na organização da manifestação na cidade do Porto e que encarámos desde então como uma responsabilidade cívica a adesão ao nosso apelo de muitas dezenas de milhares de portugueses, consideramos nossa obrigação manter vivo o movimento de intervenção e de reivindicação política iniciado a 12 de Março. Estamos convictos que a acção popular deve manter-se, deve ganhar cada vez mais dinâmica, deve reclamar a rua. Estamos convictos que a consciência política e o espírito combativo das populações devem ser aprofundados, porque só pela intervenção dos homens e mulheres de Portugal será possível opor resistência às políticas que nos conduzem, em linha recta, para a pobreza e para o rapto do nosso futuro colectivo. E estamos sobretudo convictos que esta acção deve desenvolver-se tanto mais num tempo como aquele que se avizinha, em que, por força das políticas que hoje se propõem e aplicam, o projecto do empobrecimento e degradação do estatuto social dos que menos têm vai acelerar furiosamente.

É para alcançar este nosso ideal que decidimos constituir-nos como grupo de acção cívica, adoptando o nome de Colectivo de Intervenção Popular, com o lema «Não Há 12 Sem 13». Com ele manteremos uma intervenção cívica que, como no primeiro dia, será apartidária, laica e não-violenta; estará norteada fundamentalmente para quatro objectivos: 

  1. Lutar contra todas as formas de degradação do estatuto social do trabalhador, designadamente contra a precariedade, o desemprego e os baixos salários;
     
  2. Defender uma sociedade mais transparente, onde os cidadãos tenham um maior número de utensílios que lhes permitam fiscalizar aqueles que os representam em cargos públicos;
     
  3. Pugnar pelo acesso de todos os cidadãos à educação, à informação e a todas as formas de desenvolver competências para a análise crítica e fundamentada da sociedade;
     
  4. Promover formas mais directas de participação na política;

O dia 12 de Março foi um glorioso primeiro dia num combate do povo contra um destino de atavismo, miserabilismo e subjugação, que ele rejeita por completo. O Colectivo de Intervenção Popular nasce para colaborar nesse importantíssimo combate, para o estimular e o tornar permanente.

Porto, 29 de Julho 2011.